“Recomeça… se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade.”
Miguel Torga

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

C. D. ( I I I )

Hoje recebi a notícia que amanhã iria ter alta.
Fiquei contente como, aliás, poderão imaginar.
Estar-se doente é mesmo péssimo, para já não falar do internamento hospitalar.
Há barulhos por todos os lados, as enfermeiras e enfermeiros mudam a cada turno e nem sempre estão bem humorados. Mas com o tempo vai-se conhecendo melhor estas pessoas que afinal tratam dos doentes aqui internados. Depois há os colegas doentes de quarto. Quando aqui cheguei colocaram-me num quarto com malta nova. Mas eles foram indo embora, com alta, e outros os sucederam.
Na noite passada algo de desagradável aconteceu. Um dos meus colegas, que ja tem os seus setenta e muitos anos, decidiu arrancar o soro e a algália. Quando me apercebi era sangue por todo o lado. Um toque na campainha e após alguns segundos eis que aparece a auxiliar e duas enfermeiras. Tiveram que o amarrar, pois o senhor estava super agitadíssimo. Toda a noite tentou sair da cama, querendo ir para casa, dizendo que a esposa estava lá sozinha e não sabia onde ele andava. E, a estas horas que escrevo, ainda que reine algum sossego, o referido senhor ja tentou levantar-se.
Mas queria dar-vos conta de como pequenos gestos podem significar muito, para quem fica de um momento para o outro incapacitado. Tal como ontem, hoje tomei banho sozinho e vesti-me sozinho. O gesso da perna dificulta os movimentos e as calças do pijama nem sempre são fáceis de vestir.
Andei o dia todo na cadeira de rodas aqui pelo serviço. Andava animado, pois amanhã irei embora. A perna doi-me menos, sendo uma dor tolerável.
Falei bastante com as enfermeiras e até consegui que uma das estagiárias me trouxesse um café. Ah, como me soube bem aquele café. Obrigado, enfermeira Ana.
Na porta da enfermaria estão as enfermeiras com a medicação nocturna. O meu vizinho de quarto decidiu fazer agora das dele. E estão a amarrá-lo novamente.
Será outra noite em branco???
QUERO A MINHA CASA!!!!

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