“Recomeça… se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade.”
Miguel Torga

quinta-feira, 29 de junho de 2006

Imprisoned

Pretty  Work

É assim que eu me sinto: apanhado como que por uma teia de aranha.

sábado, 24 de junho de 2006

Refugiados

Foi nesta semana que lhes foi dedicado um dia, escrevo - como é dedutível pelo título - dos Refugiados.
Em Janeiro na elaboração de um traballho, para uma cadeira da Universidade, sobre o Tráfico de Pessoas, deparei-me com o problema de haver poucas ou quase nehumas estatísticas sobre os refugiados e o tráfico de seres humanos.
Todos os dias movimentam-se, quer nas sendas do crime quer para fugir a outros males, pessoas inocentes.
Dá-me pena as crianças... E ver que em cá entre nós por vezes julgamos que nos falta alguma coisa e afinal até temos em excesso. E seria preciso dar muito para fazer um mundo melhor??? Certamente que não, bastava que dessemos aquilo que temos em excesso e se procurarem bem há tanta tralha que não lhe damos uso.

Vamos ajudar quem sofre!

sexta-feira, 23 de junho de 2006

Saudades....

Pôr do Sol
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Por vezes as imagens, os cheiros, as palavras ou as músicas fazem-nos "partir" para bem longe de onde estamos e trazem-nos à memória.... Saudades!...

terça-feira, 20 de junho de 2006

Retrato...

Retrato de uma princesa desconhecida

Para que ela tivesse um pescoço tão fino

Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule

Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos

Para que a sua espinha fosse tão direita

E ela usasse a cabeça tão erguida

Com uma tão simples claridade sobre a testa

Foram necessárias sucessivas gerações de escravos

De corpo dobrado e grossas mãos pacientes

Servindo sucessivas gerações de príncipes

Ainda um pouco toscos e grosseiros

Ávidos cruéis e fraudulentos

Foi um imenso desperdiçar de gente

Para que ela fosse aquela perfeição

Solitária exilada sem destino


Sofia de Mello Breyner Andresen


domingo, 11 de junho de 2006

Casar?

Numa altura em que foi divulgada uma estatística do INE, na qual 2005 foi o ano em que existiram menos contrações matrimoniais, eis que todos os sábados se ouvem carros em frenesim de fitinhas nas antenas dos auto-rádios.
Se em 2005 recuamos aos anos 40, do século passado, a nível de casamentos possivelmente subimos (e em muito) o número de divorciados por metro quadrado. Cada dia há mais divorciados e mais pessoas a viver em economia comum (ou comunhão de mesa, se assim lhe preferirem chamar).
Relativamente ao casamento há a salientar dois pontos: o casamento pela igreja tem vindo a diminuir (fruto dos tempos, certamente!), sendo que já nem há missa completa, limitando-se o padre a fazer uma cerimónia que em muito se assemelha à do registo (a excepção vai para o discurso em torno da fé e da igreja); por outro lado o casamento (que não passa de um contrato como outro qualquer) exige uma logística e custos deveras elevado, ganhando com tais cerimónias o fotografo, o restaurante e toda a panóplia de intervenientes neste espectáculo mediático.
Não sou apologista do casamento, nunca o fui aliás... A maioria da juventude, hoje em dia, quando casa vai na espectativa de que "se não der certo, cada um vai à sua vida".
E assim vamos nós em divórcios em Portugal.

sábado, 10 de junho de 2006

Lágrimas...

Chorar é um transbordamento.
Choro quando estou muito alegre, ou muito triste, ou
[ com muita raiva.

Por isso chorar é o ato mais forte que existe.
Mostro o que sinto e o que sinto é caudaloso e
[ límpido.

E eu não tenho porque não fluir:
Não tenho limites.

Maria Inês Chaves de Andrade, in "Ilimitada".

quarta-feira, 7 de junho de 2006

Divagações....

Caminhava pela berma do carreiro, batendo ao de leve a saia no mato viçoso. Nunca ligou ao ditado que professa que "quem se mete por atalhos se mete em trabalhos". Aquele carreiro era um golpe de vista, iria chegar cedo à ceifa.
Levava nos braços a força de uma rapariga de 20 anos...
Mangas arregaçadas e ja ia com meia courela de avanço quando chegaram as outras ceifeiras. Espantadas por a ver ali e em tão adiantado estado de trabalho apenas disseram bom dia, cabisbaixando-se por terem chegado tarde, escondendo o rubor que lhes atiçava a cara.
- A Maria do Ti Júlio Forte voltou a fazer das delas - iniciou uma a conversa para quebrar o silêncio que ja agonizava no peito.
-Parece que sim, mas daquela alminha o que se espera. Tem a quem sair... Oh!, se tem a quem sair... Lá isso tem. - argumentou a mais velha das ceifeiras.
- Também havia necessidade de fugir co'homem?
A conversa continuou animada e controversa. . O sol mostrava-se, ainda que adormecido, pois todo ele reluzia vermelhão. A alvorada indiciava a presença de mais um dia quente e seco.
-Uiiiii ai... - gritou a moça que tinha madrugado mais que as outras madrugadoras.
-Que foi? - disse uma. E logo outra: - Que raio se passa, pra tanto alarido, nossa Senhora Virgem Mãe?
Mais calma e menos ofegante, em puras gargalhas respondeu: - apenas um ninho de ratos na ceifa.
Mais tarde um homem pegou noutros ratos e colocou-os no decote, atingindo o peito da rapariga. O alarido foi imenso e a rizada ainda maior.
O calor apertou.... Os trabalhadores evaporaram-se para longe do campo de suor.
A mais madrugadora foi-se embora sem darmos conta, nem o nome chegamos a saber. Nem ela saberia que iria casar com o rapaz atrevido dos ratos.

sexta-feira, 2 de junho de 2006

Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

In Movimento Perpétuo, 1956 - António Gedeão