“Recomeça… se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade.”
Miguel Torga

quarta-feira, 7 de junho de 2006

Divagações....

Caminhava pela berma do carreiro, batendo ao de leve a saia no mato viçoso. Nunca ligou ao ditado que professa que "quem se mete por atalhos se mete em trabalhos". Aquele carreiro era um golpe de vista, iria chegar cedo à ceifa.
Levava nos braços a força de uma rapariga de 20 anos...
Mangas arregaçadas e ja ia com meia courela de avanço quando chegaram as outras ceifeiras. Espantadas por a ver ali e em tão adiantado estado de trabalho apenas disseram bom dia, cabisbaixando-se por terem chegado tarde, escondendo o rubor que lhes atiçava a cara.
- A Maria do Ti Júlio Forte voltou a fazer das delas - iniciou uma a conversa para quebrar o silêncio que ja agonizava no peito.
-Parece que sim, mas daquela alminha o que se espera. Tem a quem sair... Oh!, se tem a quem sair... Lá isso tem. - argumentou a mais velha das ceifeiras.
- Também havia necessidade de fugir co'homem?
A conversa continuou animada e controversa. . O sol mostrava-se, ainda que adormecido, pois todo ele reluzia vermelhão. A alvorada indiciava a presença de mais um dia quente e seco.
-Uiiiii ai... - gritou a moça que tinha madrugado mais que as outras madrugadoras.
-Que foi? - disse uma. E logo outra: - Que raio se passa, pra tanto alarido, nossa Senhora Virgem Mãe?
Mais calma e menos ofegante, em puras gargalhas respondeu: - apenas um ninho de ratos na ceifa.
Mais tarde um homem pegou noutros ratos e colocou-os no decote, atingindo o peito da rapariga. O alarido foi imenso e a rizada ainda maior.
O calor apertou.... Os trabalhadores evaporaram-se para longe do campo de suor.
A mais madrugadora foi-se embora sem darmos conta, nem o nome chegamos a saber. Nem ela saberia que iria casar com o rapaz atrevido dos ratos.

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