As Portas Que Abril Abriu
Era uma vez um país onde entre o mar e a guerra vivia o mais feliz dos povos à beira-terra
Onde entre vinhas sobredos vales socalcos searas serras atalhos veredas lezírias e praias claras um povo se debruçava como um vime de tristeza sobre um rio onde mirava a sua própria pobreza
Era uma vez um país onde o pão era contado onde quem tinha a raíz tinha o fruto arrecadado onde quem tinha o dinheiro tinha o operário algemado onde suava o ceifeiro que dormia com o gado onde tossia o mineiro em Aljustrel ajustado onde morria primeiro quem nascia desgraçado
Era uma vez um país de tal maneira explorado pelos consórcios fabris pelo mando acumulado pelas ideias nazis pelo dinheiro estragado pelo dobrar da cerviz pelo trabalho amarrado que até hoje já se diz que nos tempos dos passado se chamava esse país Portugal suicidado
| Ali nas vinhas sobredos vales socalcos searas serras atalhos veredas lezírias e praias claras vivia um povo tão pobre que partia para a guerra para encher quem estava podre de comer a sua terra
Um povo que era levado para Angola nos porões um povo que era tratado como a arma dos patrões um povo que era obrigado a matar por suas mãos sem saber que um bom soldado nunca fere os seus irmãos
Ora passou-se porém que dentro de um povo escravo alguém que lhe queria bem um dia plantou um cravo
Era a semente da esperança feita de força e vontade era ainda uma criança mas já era a liberdade
Era já uma promessa era a força da razão do coração à cabeça da cabeça ao coração
Quem o fez era soldado homem novo capitão mas também tinha a seu lado muitos homens na prisão
|
Continue a ler este poema aqui
José Carlos Ary dos Santos - "Obra poética" Lisboa, Julho-Agosto de 1975
Sem comentários:
Enviar um comentário